A cerca de quatro anos atrás, eu me mudei para a minha nova casa. Ela não era
uma casa nova, mas também não era muito velha, tinha cerca de dez anos. Tudo
estava bem, até o começo do ano passado. Numa noite eu acordei do nada, sem
nenhuma razão aparente. Eu vi que a minha porta estava completamente aberta,
como eu tinha deixado ela assim, e a luz do banheiro estava acessa. No entanto
havia algo que eu não tinha deixado, alguém ou algo me olhando dormir da porta.
Não tinha rosto e parecia mais uma sombra tridimencional, como se fosse uma
pessoa. O quarto estava ficando mais frio a cada respiração que eu dava.
Aquela figura se virou e andou pelo corredor, para o banheiro, mas eu só ouvi
três passos, e o banheiro fica a pelo menos 5 metros da porta do meu quarto. Em
vez da luz do banheiro brilhar naquele tom amarelado como sempre, estava
refletindo uma luz alaranjada que ficava pulsando, as vezes mais clara, as vezes
mais escura, quase chegando a ficar vermelha. Aquela figura voltou para a minha
porta, para me olhar e eu pude ouvir uma risada abafada. Eu estava pensando que
estava ficando louco e estava quase cortando as palmas das minhas mãos com as
unhas de tão forte que eu estava fechando a mão. Eu não conseguia me mover ou
gritar, mesmo estando desesperado. E o meu irmão mais novo, que tinha medo
demais para dormir sozinho, continuava a dormir ao meu lado, sem saber de nada
do que estava acontecendo. Momentos depois eu pude sentir um peso na minha cama,
como se alguém tivesse subido nela, mas aquela figura ainda estava de pé na
minha porta. Eu comecei a sentir uma dor no meu peito, como se tivesse alguém
sentado nele, ou estivesse empurrando muito forte, como se quisesse quebrar as
minhas costelas, e isto estava dificultando muito a minha respiração, mas eu não
via ninguém lá, além do meu irmão e daquela coisa na porta. Então eu comecei a
rezar sem parar o que eu podia lembrar do Pai Nosso na minha cabeça, até que eu
comecei a sentir a pressão no meu peito diminuir e a temperatura no meu quarto
voltar ao normal. Na hora eu acordei o meu irmão e mandei ele ir acender a luz.
Eu fui acordar os meus pais e contei a eles o que tinha acontecido. Claro, eles
não acreditaram no que eu tinha falado. Eu insisti e a minha mãe falou para o
meu pai olhar pela casa, que de repente alguém podia ter entrado, mas a casa
estava vazia, apenas a nossa família estava lá. E apenas eu tinha presenciado o
ocorrido, então ninguém mais levou aquilo a sério, e eu fiquei parecendo o bobo
da vila. Eu me recusei a voltar para o meu quarto, então me colocaram para
dormir no quarto da minha irmã, e quando estávamos todos subindo a escada para
voltar a dormir, eu pude ouvir aquela risada abafada de novo, mas ninguém mais
pareceu ouvir, então eu não mencionei nada a ninguém. Eu olhei para a sala onde
estávamos e não pude ver nada nem ninguém. Pouco tempo depois já estavam todos
dormindo e eu estava deitado no chão no quarto da minha irmã na minha cama
improvisada. Então eu pude ouvi alguém subindo a escada. Só que todos nós já
tínhamos subido, e eu sabia exatamente o que era que estava vindo.
De novo eu pude sentir o quarto esfriando e aquele aperto no meu peito, só que
agora estava ficando quase insuportável sentir aquilo, e a minha irmã continuava
dormindo. Mas desta vez eu não vi aquela sombra à espreita. De novo eu comecei a
rezar até que aquilo parou. E naquela noite isso foi tudo o que aconteceu, pouco
tempo depois eu voltei a dormir.
No dia seguinte eu fui na casa de um amigo religioso que eu tenho e peguei um
crucifixo de madeira emprestado, já que eu não tinha um. Quando eu cheguei em
casa, eu comecei a sentir o cheiro de alguma coisa queimando. Eu procurei pela
casa toda, mas não pude achar de onde aquele cheiro estava vindo, e as janelas
estavam fechadas, então o cheiro também não estava vindo de fora. Então eu
resolvi cheirar o crucifixo. Era o que estava cheirando queimado. Por aquela
semana inteira, sempre que eu entrava em casa, ele começava a cheirar queimado,
mas sempre que eu sai de casa, o cheiro passava.
Isso tudo durou quase que um mês inteiro, quando eu finalmente comecei a
procurar alguma ajuda. Eu pendurei alguns crucifixos e imagens de santos pela
casa e rezava toda noite. Sempre que eu rezava antes de dormir, eu não sofria os
ataques noturnos. Depois de pouco tempo que eu estabeleci essa rotina, nada mais
de estranho aconteceu, e hoje em dia eu vivo em paz na minha casa.
Ulisses - São Paulo - S.P.